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Antropologia do Consumo: Considerações Iniciais

Esta postagem inaugura uma seção dedicada à disciplina referida no título ministrada por três períodos no curso de Publicidade nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), entre 2020 e 2021.

O conteúdo está dividido nos seguintes tópicos:


Considerações iniciais

O consumo é uma categoria escorregadia. Embora os indivíduos no mundo consumam o tempo todo, a academia, na maioria das vezes, só considera consumo aquela aquisição de bens e serviços que parece supérflua ou ostentadora. Embora nem todas as pessoas trabalhem e produzam riquezas, todos consomem, e o destino da produção é o consumo. Mesmo assim, no sistema de valores da economia capitalista, ser consumista é um estigma, mas a produção é quase sempre valorizada, considerada moralmente superior ao consumo.

A moralidade que envolve o tema é tão complexa que, para adquirimos um bem não é suficiente apenas ter vontade e o dinheiro necessários, mesmo que haja disponibilidade. Também se faz necessário justificar nossa compra perante nós mesmos e aos outros. Para tanto, desenvolvemos diversos discursos que vão do eu mereço ao eu preciso.

Nos últimos anos, após décadas de total desinteresse sobre o tema, os cientistas de diversas áreas passaram a dar atenção a este fenômeno comportamental nas diversas sociedades globalizadas do mundo contemporâneo. Neste contexto, o sentido de consumo foi se ampliando: a compra compulsiva passou a ser analisada sob a ótica dos processos psicológicos (motivação, status, socialização, percepção, atitudes e mudança de atitudes), abordando novas questões e objetos.

Em nossos encontros, vamos trabalhar com um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros apresentando ideias e estudos que transitam da etnografia até uma reflexão mais filosófica sobre o assunto, com o intuito de interessar o público formado por estudantes de cinema, jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda.

Na disciplina de Antropologia do Consumo, nós iremos ter as aulas remotas expositivas, durante as quais travaremos debates sobre os principais temas que fazem parte do nosso conteúdo programático. Serão propostos trabalhos redigidos em linguagem acadêmica, sobre as unidades que integram os nossos objetos de investigação.

*Psicologia do Desenvolvimento. Argumentando... Postagem do dia 2 de abril de 2017 no grupo FACHA Comunicação & Psicologia, no Facebook.


Como se escreve um texto acadêmico?

Para se redigir um bom texto acadêmico, você deve manter o foco no objetivo do trabalho, ou seja, o tema que foi proposto. Você deve ler a bibliografia indicada, tecer suas próprias considerações sobre o texto, escrever um resumo do que foi lido e compreendido, com suas próprias palavras. Os princípios básicos indispensáveis à redação científica, comuns a outras formas de escrita, podem ser resumidos nas seguintes características: clareza, precisão, comunicabilidade e consistência. A formatação padrão deve ser fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, entrelinhamento de 1,5 e tabulação de seis espaços.

O texto científico não precisa ser rebuscado e hermético, pelo contrário, deve ser de fácil leitura, objetivo ao abordar o tema, e deve informar o leitor sobre ele, provendo conhecimento teórico, e sempre indicando as fontes da sua pesquisa. No Brasil, os textos científicos devem ser formatados de acordo com os padrões ditados pela ABNT, que é a Associação Brasileira de Normas Técnicas. Vocês encontraram mais informações no Manual de TCC da FACHA que está disponível no site da Faculdade.


Principais autores e estudiosos

Abraham Harold Maslow (1908-1970) foi um psicólogo americano, conhecido pela proposta Hierarquia de Necessidades. Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para saciarem as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de autoestima. É considerado o fundador da psicologia humanista.

Byung-Chul Han (1959) é um filósofo e ensaísta sul-coreano, professor da Universidade de Artes de Berlim. Ele estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. Atualmente, é professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de uma dezena de ensaios de críticas à sociedade do consumo e à tecnologia. Tem diversas obras publicadas no Brasil, com destaque para "Sociedade do Cansaço" e "Sociedade da Transparência", ambas pela Editora Vozes.

Christian Laval (1953) é professor de sociologia na Universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense, autor de “L’Homme économique; essai sur les racines du néoliberalisme” (Gallimard, 2007) e também de um volume da história da sociologia, “L’ambition sociologique (Galimard, 2010).

Colin Campbell (1940) é doutor em sociologia pela Universidade de Londres, professor na Universidade de York e autor, dentre outras obras, de "A ética romântica e o espírito do consumismo moderno", em parceria com Lívia Barbosa, cuja edição brasileira foi publicada pela Rocco.

Daniel Miller (1954) é professor de antropologia no University College London e autor de inúmeros livros, entre os quais "Trechos, troços e coisas", lançado no Brasil pela Zahar. Dedicado ao estudo da cultura material, atualmente realiza pesquisas em antropologia digital, mídias e redes sociais.

David Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. Formalmente, tornou a sociologia uma ciência e, com Karl Marx e Max Weber, é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e pai da sociologia.

Fred Tavares é Doutor em Psicossociologia pelo Instituto de Psicologia da UFRJ, Mestre em Administração de Empresas e Bacharel em Comunicação Social, com Especialização em Marketing. Atualmente é professor titular na UFRJ. Ex-professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso e da Universidade Castelo Branco. Há mais de 25 anos na área de comunicação e marketing, atuou em diversas agências de publicidade.

George Ritzer (1940) é um sociólogo estadunidense que estuda os padrões americanos de consumo e a globalização, além de contribuir para a metateoria e a teoria social moderna e pós-moderna. Atualmente é professor da Universidade de Maryland.

Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo, sociólogo, historiador, economista, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. A obra de Marx em economia estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o capital. Publicou vários livros durante sua vida, onde destacamos "O Manifesto Comunista" (1848) e "O Capital" (1867-1894).

Laura Graziela Figueiredo Fernandes Gomes é bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (1976), Mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional, 1991) e Doutora em Ciências Humanas (Antropologia) pela Universidade de São Paulo (1997), tendo realizado pós-doutorado em Paris-X, Nanterre (2000-2001) e na École des Hautes Études (GSPM, 2011 - 2012). Desde 1979 é professora pesquisadora da Universidade Federal Fluminense.

Lívia Barbosa é professora de antropologia do Departamento de Antropologia e Ciência Política da Universidade Federal Fluminense e consultora da Escola de Propaganda e Marketing/Rio. É autora de inúmeros livros e artigos no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam "O jeitinho Brasileiro ou a Arte de Ser mais Igual que os outros"; "Igualdade e Meritocracia"; "Sociedade de Consumo"; "Consumo, Cultura e Identidade", em parceria com Colin Campbell.

Maria Isabel Mendes de Almeida é Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa na Universidade Candido Mendes/UCAM. Possui Pós-Doutorado em Sociologia pela Universidade Rene Descartes Paris V-Sorbonne, Doutorado em Sociologia pelo IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), Mestrado em Sociologia pelo mesmo Instituto e Graduação em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/ PUC-Rio.

Marcos Alexandre de Souza Gomes (1958) é mestre em Psicologia, pós-graduado em Docência do Ensino Superior, jornalista diplomado com passagem por inúmeros veículos de Comunicação desde 1976, entre eles: Rádio Difusora de Petrópolis, Rádio Imperial (Sistema Globo de Rádio), Jornal Folha Serrana, Tribuna da Imprensa e O Globo. Iniciou sua carreira no magistério em 1981. Atualmente é professor titular de Antropologia do Consumo, Comunicação e Psicologia nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). Editor do blog Comunicação e Psicologia e moderador do Articulando Educadores. Possui diversos trabalhos publicados entre obras literárias e acadêmicas, com destaque para Jornalismo no Brasil contemporâneo: por um jornal comunitário (ECA-USP, 1984); Alimento (poesias, 77 Editora) e Jornalismo, linguagem da simplicidade (2a ed., Litteris Editora, 2001), Psicologia e Representações Sociais (Quártica Editora, 2017).

Marta de Azevedo Irving é professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS/IP/UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (UFRJ). Pesquisadora sênior do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). Graduada em Biologia (UFRJ) e em Psicologia (UERJ). Mestrado em Gestão Costeira (Southampton University) e Doutorado em Ciências (Universidade de São Paulo). Autora de diversos livros e artigos científicos no campo das Ciências Sociais Aplicadas.

Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto é professor associado do Departamento de Antropologia e do PPGA da Universidade Federal Fluminense e coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM) da UFF. Possui graduação em Historia pela Universidade Federal Fluminense (1992), graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (1997) e doutorado em Antropologia - Boston University (2002).

Pierre Dardot (1952) é filósofo e pesquisador na Universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense , especialista no pensamento de Marx e Hegel. Desde 2004, juntamente com Christian Laval, coordena o grupo de estudos e pesquisa “Question Marx”, que procura contribuir com a renovação do pensamento crítico.

Zygmunt Bauman (1925-2017) foi um sociólogo e filósofo polonês professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. De acordo com ele, nos tempos atuais as relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Bauman tem mais de trinta obras publicadas no Brasil, a maioria pela editora Zahar, dentre as quais "Amor líquido", "O mal-estar da pós-modernidade", "Modernidade líquida" e "Vida para o consumo". Tornou-se conhecido por suas análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade e holocausto. É frequentemente descrito como um pessimista, na sua crítica à pós-modernidade.


Referências

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (Orgs.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2016.

GOMES, Marcos Alexandre de Souza. Psicologia e representações sociais. Rio de Janeiro: Quártica, 2017.

HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.

MORAES, Dênis de. Crítica da mídia & hegemonia cultural. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.

MOSÉ, Viviane. Nietzsche hoje: sobre os desafios da vida contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2018.

TAVARES, Fred; IRVING, Marta de Azevedo. Natureza S.A.: o consumo verde na lógica do Ecopoder. São Carlos: RiMa Editora, 2009.