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Antropologia do Consumo: Definindo Antropologia e Consumo

Esta postagem é parte de uma seção dedicada à disciplina referida no título ministrada por três períodos no curso de Publicidade nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), entre 2020 e 2021.

O conteúdo está dividido nos seguintes tópicos:

 

Etimologia do termo Antropologia

A Antropologia divide-se, principalmente, em duas áreas de investigação: a antropologia física e a antropologia cultural. Nestas esferas, campos de estudo diversos se tornaram independentes, sendo que a primeira é geralmente classificada como ciência natural e a segunda como ciência social.

Esta classificação, no entanto, não é homogênea em todo mundo. No Brasil, a antropologia cultural desenvolveu-se, principalmente, na corrente pós-estruturalista trabalhando o conceito sob a perspectiva amazônica, da qual o maior representante é o professor Eduardo Viveiros de Castro, que estudou as noções de natureza e cultura, propondo a ideia de que a experiência ameríndia de conceber o mundo difere essencialmente da experiência dos colonizadores, se utilizando de um conceito construído por ele de multinaturalismo.

A antropologia no Brasil tem vasta produção acadêmica, particularmente em temáticas como estudos de gênero, identidades culturais, estudos de população, antropologia visual e da imagem, antropologia das emoções, antropologia política, antropologia urbana e do consumo.


Algumas das várias antropologias

Antropologia física

A antropologia física surge vinculada aos estudos fisco-biológicos do século XVIII e XIX, visando compreender o processo de evolução pelo qual se originaram os humanos modernos, com ênfase nos aspectos biológicos e físicos referentes a este processo. Sua metodologia se centra na etnografia, na comparação fóssil-residual, além do estudo comparativo de diferentes 'tipos humanos'.

Esse ramo da antropologia tem como objetivo compreender a adaptabilidade e variabilidade observáveis no decurso da humanidade. Em sua maior parte, está vinculada a uma matriz disciplinar biofísica que tem como principal foco as teorias evolucionistas. Está também associada aos estudos arqueológicos, tanto nas pesquisas de grupos hominídeos pré-históricos, como nas etno-históricas, visando estabelecer as diferentes trajetórias da sociedade de tradição eminentemente oral bem como naquelas de tradição escrita, embora para ambas os registros e vestígios hoje remanescentes sejam bem esparsos.


Antropologia Cultural

Suas raízes que remontam a Antiguidade Clássica, quando os primeiros relatos escritos iniciaram as discussões acerca da cultura dos povos que foram conquistados através das inúmeras guerras. Um novo ciclo de desenvolvimento floresceu após o período das grandes navegações, cujos registros discutiam os povos 'descobertos' como exóticos e 'estranhos' ao mundo europeu.

Também conhecida como antropologia social, esta vertente surge da necessidade de compreender a alteridade sociocultural, ou seja, a apreensão da visão de mundo expressa pelos comportamentos, mitos, rituais, técnicas, saberes e práticas de sociedades de tradição não-europeia.

Nas primeiras décadas de sua formação enquanto disciplina, a antropologia esteve ligada aos interesses de Estado. Nesse sentido, a corrente funcionalista inglesa, pensava a antropologia sob uma forma aplicável ou útil para a consolidação das ambições de seu governo, sendo utilizada, portanto, para práticas colonialistas.

Em uma vertente oposta, o Estruturalismo, de Claude Lévi-Strauss, discute a antropologia cultural como ferramenta de compreensão do homem. Nos seus estudos, demonstra que os sujeitos, em todas as culturas, estabelecem processos cognitivos da mesma forma, e que a utilidade é uma consequência da busca de conhecimento, e não a sua causa, como apontam os funcionalistas.


Antropologia Biológica

Consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Esta área leva em consideração as influências dos valores culturais nos indivíduos, buscando identificar aspectos genéticos o que é inato e o que é adquirido através da genética das populações.


Antropologia Pré-Histórica

Busca reconstruir as sociedades antepassadas. A antropologia pré-histórica é o estudo do homem através de vestígios materiais enterrados no solo, não só com as ossadas e artefatos, mas, também, quaisquer marcas da atividade humana.


Antropologia Linguística

Ocupa-se das formas de comunicação humana. A linguagem é parte do patrimônio cultural de uma sociedade, e é por meio dela que os indivíduos integrantes de uma sociedade se expressam e exprimem os seus valores, suas preocupações e seus pensamentos.


Antropologia Psicológica

Consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. Para um número cada vez maior de autores, junta-se aos primeiros tópicos de pesquisa que foram mencionados acima, que são habitualmente os únicos considerados como constitutivos do campo global da antropologia.


Definição de Consumo

Segundo a primeira definição apresentada na versão online do Dicionário Houaiss: “o que se gasta; dispêndio, despesa, consumação”.

Decorrente da atividade econômica, o consumo consiste na utilização, exploração ou aquisição de bens ou serviços. Pode ser praticado por famílias, empresas ou outros agentes econômicos, os chamados consumidores.

Etimologicamente, o sentido negativo do consumo predomina sobre o positivo, o que explica em parte a maneira pela qual o tema é tratado historicamente tanto pela academia quanto pelo senso comum.

Tendo em conta a natureza das necessidades satisfeitas, as formas de consumo podem classificar-se em essenciais e supérfluos.

O consumo essencial refere-se à satisfação das necessidades básicas, ou à compra e utilização de bens e serviços indispensáveis à nossa sobrevivência, como os alimentos, o vestuário e a educação.

O consumo supérfluo assenta na satisfação de necessidades secundárias ou terciárias, ou à aquisição e utilização de bens e serviços dispensáveis à nossa vida, como automóveis ou bolsas de luxo.

*Toque essencial. Postagem do dia 5 de fevereiro de 2017 no grupo FACHA Comunicação & Psicologia, no Facebook.

Os estudos sobre consumo ocupam hoje posição relevante no campo das ciências sociais. Atualmente, no Brasil e no mundo existem diversas pesquisas concluídas e outras tantas ema andamento dedicadas ao tema. A bibliografia sobre o assunto aumenta a cada ano. A representação social do consumo é fartamente difundida através da mídia impressa e eletrônica. Jornais, revistas, e programas televisivos e radiofônicos abordam a questão sobre diversos ângulos.

Antes interessante apenas a economistas e profissionais da área de marketing, o consumo passou a ser objeto de estudo também no campo das Ciências Sociais a partir da década de 1970. Hoje, uma gama de pesquisadores se debruça sobre a sociedade de consumo, estabelecendo pontes entre diversas áreas, das quais aqui destacamos a comunicação, história, sociologia e a psicologia.

A expansão do mercado de bens de consumo reflete o sucesso das economias capitalistas, mas também acentua a exploração desregrada dos recursos naturais não renováveis. Esse é um dos principais pontos levantados nas discussões acadêmicas em relação ao consumismo. O consumismo é o ato, efeito, fato ou prática de consumir em demasia.

*Nosso mundo desigual... Postagem do dia 12 de janeiro de 2017 no grupo FACHA Comunicação & Psicologia, no Facebook.

Compreender como se dá o consumo nos dias de hoje e os seus diferentes desdobramentos requer uma observação apurada das sociedades, a partir da qual, com o auxílio de correntes filosóficas abordadas pelos seguintes estudiosos, nortearemos as reflexões pertinentes à nossa disciplina: Colin Campbell, Laura Gomes, Lívia Barbosa, Fred Tavares, Maria Isabel de Almeida, Marta Irving, Paulo Rocha Pinto e Tom Fisher.

É perfeitamente observável que maior parte das sociedades utiliza o consumo como forma de demarcar sua existência, física e socialmente. Lançamos mão de uma série de bens, objetos e serviços para nos abrigar, saciar a nossa fome, a nossa sede, entre outras necessidades físicas e biológicas, os quais também são empregados para mediar nossas relações sociais, conferindo status, moldando identidades e estabelecendo fronteiras entre indivíduos e grupos. Enfim, participando na construção de nossas subjetividades.

As linhas teóricas sobre o consumo, em maior ou menor grau, passaram a contemplar áreas de domínio que antes, acreditava-se, estavam alheias a este fenômeno. Cidadania, cultura, política, meio ambiente e religião, por exemplo, são aspectos sociais afetados, direta ou indiretamente, pelos nossos hábitos de consumo. O cotidiano dos indivíduos está repleto de valores de consumo, desde a roupa que veste até a sua crença religiosa.

*O comercial de Natal que está emocionando o mundo. Postagem do dia 3 de dezembro de 2015 no grupo FACHA Comunicação & Psicologia, no Facebook.

Exercício 1: O que o consumo representa na sua vida: essencial ou supérfluo? Comente em até 30 linhas.

Consenso entre os autores especialistas no tema é que o consumo se tornou um campo fértil para investigações, por englobar vários atores e atividades não restritos apenas às mercadorias. Existem inúmeras fontes de produtos e serviços que são fundamentais no processo do consumo, tais como o Estado, que provê um conjunto de serviços coletivos, e que ainda recebem pouca atenção dos estudiosos, no campo da antropologia e da sociologia, dedicados às questões urbanas.

O processo de compra tem se modificado ao longo do tempo. Nos atuais termos, pode-se ter acesso a um bem ou produto sem comprá-lo e mesmo assim ter direito sobre eles. É o caso do leasing, que é o aluguel de bens de consumo. Assim, é mais pertinente falar-se de acesso, em vez de venda de produtos. Não é somente o caso de quem compra o que, mas de quem tem acesso a que e qual uso faz desse bem.

A sociedade contemporânea ampara-se no consumo enquanto processo de interação social, ligado a múltiplas formas de provisão de bens e serviços e as suas diferentes formas de acesso, como meio de expressão de identidades, sendo uma forma de os grupos sociais apresentarem seu estilo de vida, seu status. Para se ter uma ideia da complexidade para se definir consumo teórica e metodologicamente, basta verificar que as variáveis que se aplicam para a moda (vestuário) não se aplicam para a comida e a música, embora o consumo nessas áreas envolva processos de produção social de gostos.

* Um primor de crítica à sociedade de consumo. Postagem do dia 4 de março de 2018 no grupo FACHA Comunicação & Psicologia, no Facebook.